Bert Kaempfert (Mestro, músico alemão)
O maestro alemão Bert Kaempfert (1923/1980) foi extremamente bem sucedido à frente de uma big band, vendeu milhões de discos, entre meados dos anos 50 até final dos 60, com um repertório de standards, temas de trilhas sonoras e músicas autorais (é autor de entre outras, Strangers in the night, gravada por Frank Sinatra). Uma típica orquestra “família”, que servia de fundo musical para almoços, jantares, coquetéis e afins. Kaempfert é mais comentado por um incidente musical que lhe aconteceu em 1961, do que pelos muitos álbuns que gravou com sua orquestra.
Naquele ano, ele produziu, na Alemanha, um disco do cantor inglês Tony Sheridan, que foi acompanhado por um grupo de rock, também inglês, chamado The Beatles (ainda com Pete Best na bateria), que fazia temporada em clubes de segunda categoria em Hamburgo. Bert Kaempfert produziu duas canções gravadas pela banda, Ain’t she sweet e o instrumental Cry for a shadow. O LP foi creditado a Tony Sheridan with The Beat Brothers.
No entanto, no mesmo ano, Bert Kaempfert gravou um disco que até hoje não recebeu a devida atenção: A swingin’ safari. O álbum é realmente um safári do alemão na cena musical da África do Sul, particularmente a um gênero antão em moda no país (e na África Ocidental), o kwela. Deste LP, o grande sucesso foi a faixa Afrikaan beat, com centenas de gravações mundo afora, inclusive no Brasil, citando umas poucas, com a Orquestra Brasileira de Espetáculos, Maestro Pachequinho, Os Velhinhos Transviados, Oliveira e seus Black Boys, e com o grupo vocal Os Três Tons (rebatizada de Alucinado).
O ritmo passou a ser chamado de Afrikaan beat, um misto de pop dançante, com tempero jazzístico, mas, sobretudo, uma música sem maiores pretensões a não ser a de divertir. É o mais remoto antepassado do que se convencionou rotular de world music, inicialmente, a música de países de terceiro mundo, o som da periferia (hoje world music é uma expressão amorfa, que engloba da música folk dos Chieftains a ao pop eletrônico de Lucas Santtana).
Em tempos de politicamente correto, Bert Kaempfert seria criticado severamente pelo colonialismo cultural. Contextualizando-se, não havia então esta consciência, era época de apartheid, de uma África colonial atrelada a alguns países europeus. Bert Kaempfert foi, pois, ao safári musical, assim como outros iam em buscar de tigres, leões, ou marfim. A swingin safári, que abre o disco, é uma rapina, na muitas vezes rapinada, Mbube, do sul-africano Solomon Popoli Linda, que ano mais tarde ficaria conhecida como The lion sleeps tonight (tema do filme O rei leão). Quando Solomon morreu em 2009, a família correu atrás do prejuízo de décadas de uso indevido da música (que teve sua história contada numa das primeiras crônicas deste blog). No disco, Bert Kaempferttoca Wimoweh, nome que recebeu Mbube quando foi lançada nos EUA, em 1952, assinada por Peter Seeger, que a supunha de domínio público.
Enfim, o galego Bert Kaempfert foi à África, colheu a matéria prima, deu-lhe um trato no estúdio da Polydor na Alemanha, e a espalhou pelo mundo. Ele também foi o primeiro europeu a gravar o estilo vocal sul-africano que Paul Simon, somente em 1986, descobriria com o grupo Ladysmith Black Mambazo Várias músicas foram sucesso, mais que todas, a citada Afrikaan beat, uma melodia contagiosa, pop com diálogos de naipes de trombones e saxes, frases repetidas, com molho jazzístico. Tocou muito planeta afora, inclusive em países africanos, e influenciou jovens que começavam a fazer música na Nigéria, como Fela Anikulapo Kuti e Tony Allen. O que me foi confirmado pelo próprio Tony Allen, num papo em Salvador, numa das edições do PercPam.
O hoje badalado e cultuado afrobeat começou, grosso modo, como uma afrikaan beat desacelerada, ouriçada, alicerçada na bateria única de Allen (que Brian Eno considera o maior batera de todos os tempos). Por fim, mas não menos, importante, o título do LP do quadradíssimo Bert Kaempfert inspirou os iniciantes Beach Boys a batizarem seu álbum de estreia de Surfin’ safari. Curiosamente, em muitos blogs brasileiros, A swingin’ safari foi encaixado na prateleira do samba-rock, provavelmente pela versão, com letra em português, do trio Os Três Tons, que, por sinal, não fazia samba-rock.
FONTE DA PESQUISA:
https://mega.nz/#!4MdkRApa!fzHdxuL5fY0Joj8nBZ5kFp3fVbVC9ez2h6C_nXg2Kkk
ResponderExcluirjose mauricio - MACEIO AL. na minha opniao uma das maiores orquestras de todos os tempos. parabens pelo POST. abração.
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